18 setembro 2006

04. Consultas, Vacinas e Profilaxias
ou Um Tríptico Doente

1. Consulta do Viajante
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE LISBOA no Campo Mártires da Pátria em Lisboa, Telefone: 218 803 009, consultas diariamente das 15 às 18 horas. Funciona nos mesmos moldes das consultas de viajante do Instituto de Medicina Tropical mas tem a vantagem de (à data) apresentar maior disponibilidade de agenda. 30€ (marcar pelo telefone, antecipadamente)
Calor, subindo a Rua de São Lázaro.
17:00 - chegada ao edifício bonito da Faculdade de Ciências Médicas. Recebemos uns inquéritos.
17:10 - estavam preenchidos os inquéritos (afinal de utilidade estatística)
17:20 - entrada no consultório
18:10 –saída do consultório com uma lista onde eclodiam os seguintes itens:
- 3 vacinas febre amarela
- 3 vacinas febre tifóide
- 1 vacina hepatite AeB
- 1 vacina hepatite B
- 1 reforço hepatite B
- 1 vacina tétano
- antis: biótico, inflamatório, diarreico, histamínico
- e vários repelentes de mosquitos
18:30 - UFA! (vamos ter de repensar a arrumação da nossa querida caixinha dos medicamentos)
Fresco, descendo a Rua de Santa Bárbara.


2.Vacinas contra Febres
CENTRO DE VACINAÇÃO INTERNACIONAL, na Avenida 24 de Julho, n.º 120, 4.ºem Lisboa, Telefone: 213 959 944, vacinação diariamente das 9 às 12 horas. 0,15€ (!) (aparecer, é por ordem de chegada)
As vacinas da
Febre Amarela e da Febre Tifóide ficam registadas num Certificado Internacional de Vacinações (capa Amarela como a febre). Há países onde é obrigatório a apresentação deste comprovativo para que seja autorizada entrada.
As vacinas foram administradas com sucesso. Uma em cada deltóide. Uma trouxe dores musculares outra nem por isso. A vacina da Febre Amarela tem uma validade de dez anos ao passo que a da Febre Tifóide se garante por três. (Parece-me bem lembrado aproveitar esta imunização para as próximas viagens.)


3. e ainda...a profilaxia da Malária
Não há vacinação para a Malária (ou Paludismo). O que se pode fazer é uma profilaxia, ou seja tomar precauções, umas mais inofensivas que outras. Ora saibam: usar repelente de insectos (há os em spray, stick ou esponjas adesivas), vestir mangas compridas, calças e sapatos fechados ao anoitecer, e recorrer ao uso de rede mosquiteira sobre a cama no caso de ficarmos em quartos mais desatentos. E depois há o Mephaquin® comprimidos revestidos, a tomar ao ritmo de um por semana: desde a semana que antecede a viagem, durante toda a viagem e terminando 4 semanas após o regresso.

O princípio activo deste medicamento é o Cloridrato de mefloquina, um químico sintético desenvolvido nos anos setenta como substituto da quinina (esta sim, substância química natural - alcalóide - com propriedades anti piréticas, anti malárias, analgésicas e anti inflamatórias, hoje usada também para dar sabor à água tónica!).
A descrição dos efeitos secundários da toma deste medicamento é um tanto ou quanto assustadora.
Em doses profiláticas há poucos efeitos adversos mas quando as doses terapêuticas são "altas" (altas como eu, como tu? Altas como uma girafa ou como um embondeiro?) podem ocorrer: "vertigens, distúrbios de equilíbrio, problemas gastrointestinais tais como náuseas, vómitos, diarreia, bradicardia, erupções cutâneas, astenias, elevação dos níveis de transaminases, reversíveis e alterações psicológicas". Enfim, nada mais, nada menos do que aquilo de que precisamos para nos divertir à grande em viagem!
A dada altura avisam que os efeitos secundários se podem confundir com os sintomas da própria doença!:"Muitos desses efeitos podem estar ligados aos sintomas da malária e não devem necessariamente atribuídos ao medicamento." Dirá o schôtour: ó menina, isso ou são os primeiros sintomas de malária ou é reacção ao medicamento!
Lê-se também no folheto que acompanha a embalagem, um recado especial:
"Mulheres em idade de reprodução […] devem tomar medidas para evitar a gravidez. Essas precauções devem continuar por 2 meses após a última dose […] em virtude do seu princípio activo ser eliminado muito lentamente."
E para o fim deixo-vos com a cereja no topo do bolo:
"A mefloquina é teratogénica em ratos e ratinhos quando administrada em doses de [tantos]mg/Kg por dia. O fármaco também demonstrou teratogenicidade em coelhos quando administrado em doses de [tantos]mg/Kg e teratogenicidade e embriotoxicidade em dosagens de [tantos]mg/Kg." Uh! É este um parágrafo respeitoso, assusta de imediato. Mesmo sem que se saiba o significado do palavrão "teratogenicidade" a coisa não aparenta nada um ar são. Bom, mas vale a pena estreitar o que quer dizer teratogenia e já agora "embriotoxicidade". Começamos por esta última que é mais fácil. Se dividirmos a palavra em embrião+toxicidade ficamos mais esclarecido: qualquer coisa tóxica, envenenada para o embrião, ou feto. Agora com ida ao dicionário temos que teratogenia vem do Grego téras (prodígio horrendo, sinal monstruoso) + gígnomai (gerar), e aparece no dicionário como "produção de monstruosidades ou anomalias".


Conforta-me pensar que contrair Malária será pior que tudo isto… e que os efeitos secundários do medicamento só se destacarão durante aquelas últimas 4 semanas, quando tiver voltado ao trabalho!


LINK para Portal da Saúde

1 comentário(s):

Blogger Cine-clube Komba Kanema disse...

Todo este post me faz pensar que se assusta desnecessariamente as pessoas que viajam para estas paragens. Tenho 60 anos, vividos em Moçambique, e nunca ouvi falar de ninguém que tenha sofrido essas várias doenças para as quais se manda tomar vacinas. Daí que elas não sejam absolutamente necessárias para entrar em Moçambique.
Grave sim pode ser a malária. E, mesmo essa, se atingir alguém longe de uma unidade sanitária. Em outras circunstâncias é cois para três dias a comprimidos. Mais grave, muitas vezes, depois do regresso à Europa. Quando a doença surge, nessas alturas, os médicos europeus não pensam que pode ser málária e, enquanto andam à procura do problema, o doente morre.
Em resumo: Vacinas não vale a pena. Prevenção da malária vale.

Machado

11:10 da manhã