27 setembro 2006

07. Medo

Medo eu? Não, que ideia!


Será porventura este um dos sentimentos que mais percorre a mente do comum ocidental perante a perspectiva de viajar a la independente por África? No meu caso não me custa admitir que sim, tenho medo. Dirá a psicanálise que os medos enfrentam-se e, também por isso, aí vamos!


Na bibliografia da especialidade vêm elencados os perigos:
- saúde pública e doenças
- guerras e conflitos
- criminalidade urbana


Sinto que no capítulo da saúde é quase imoral estar muito preocupado. Seguimos e seguiremos à risca todos os cuidados médicos e higiénicos prescritos, e estes estão assustadoramente acima da média, quando comparados com a assistência médica a que os nativos do continente têm acesso.


Quanto à instabilidade política, salvo se tivermos a ousadia de pousar os pés no Zimbabué, não creio que arriscaremos muito a ter problemas com regimes governativos avessos à nossa condição de turistas vindos de Portugal. Há sempre o flagelo das minas anti-pessoais mas dessas só teremos que nos desviar... (não é assunto para brincadeiras, mas decerto que não pisaremos terreno assim tão fora do mapa)!


O problema derivado da questão (agora sim, piada fedorenta) da criminalidade “sem regras” é o que mais me “assalta”! Pelo que me tenho apercebido, parece haver, nos meios backpackers que trilham aquelas paragens, uma certa psique que coloca as experiências com a (in)segurança num patamar palratório ainda mais alto do que as habituais considerações económicas. Se por um lado esta atitude soa um pouco a “orgulho em comparar feridas de guerra”, por outro, o alarme é tanto que devemos mesmo levá-lo a sério. Eis um exemplo soft num relato sacado na Internet de David Hulshuis, Netherlands (Feb 02):


“In Durban I was looking for my minibus, carrying my big backpack and my daypack, when a car pulled up next to me with four white men in it. Like most white South Africans these people wondered why I was taking a minibus. 'Do you want to get killed, or what?' It was ironical (and scary too!) that these people said this while they were wearing vests with hand grenades, belts with guns and had automatic guns on their laps! They were obviously drug barons or some protection gang. Luckily they were not out for me, but just wondering why a white guy would take a minibus.”



Para acalmar as hostes que cá ficam, deixo a garantia (e o lamento também) que, dentro do razoável, faremos as coisas o mais seguras possível! Tomaremos precauções que saem fora dos nossos hábitos. Para começar, o seguro de viagem é topo de gama! O que se seguirá, a ver vamos...


Termino com uma mensagem positiva. Um trecho da crónica do Gonçalo Cadilhe, (jornal Expresso, 6/3/2006) quando este se encontrava na Cidade do Cabo e reflectia perante a perspectiva de atravessar todo o continente Africano até Portugal:


“Eu sigo, no entanto, optimista. Os países são feitos de pessoas, e eu acredito que a maioria das pessoas é feita bem. É feita de valores universais, que permitem a qualquer viajante sentir-se em casa quando se sente rodeado desses valores. O sorriso, a solidariedade, o bom-senso, a alegria, a música e a amizade valem mais do que a corrupção, a desonestidades, o ódio, os preconceitos raciais, os estereótipos sociais. Viajarei com o primeiro grupo de valores na bagagem, para trocá-los por outros iguais ao longo da viagem.”

3 comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

Finalmente a estreia, Quico...

Eu retinha do Cadilhe apenas a parte em que diz «Os países são feitos de pessoas». Estarei a ser ingénua ao perguntar se não são as pessoas boas e as circunstâncias é que as tornam más? E às vezes más, ou outro atributo da mesma estirpe, porque aos nossos olhos...?

Que o medo seja em dose q.b. para estar alerta. Ele também é necessário.

A propósito, lembrei-me que vão em período de Ramadão. Passam por algum país com comunidade muçulmana importante? Pode ser ocasião de provar iguarias excepcionais. A sério, não é provocação.

1:59 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O senhor Robert Young Pelton – que é uma espécie de autoridade em sobrevivência em viagens, pelo menos o Google faz-lhe mais de 80.000 referências – tem um teste de aventura com algumas perguntas / respostas engraçadas, por exemplo:

a) A causa mais provável de morte para quem anda à boleia nos States é:
b) O animal mais perigoso do mundo é:
c) O animal selvagem mais perigoso da América é:
d) O local mais perigoso do mundo é:
e) A maioria dos ataques de animais em parques nacionais é causada por:
f) Quando for atacado, o melhor movimento de autodefesa é:

E, finalmente, esta é especial para a Jotinha,

g) A melhor maneira de fazer sinais para obter ajuda é:

Conseguem adivinhar as repostas?

OK, vou colocá-las num comentário à parte. Não vale espreitar antes de tentar responder!

10:30 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

a) A causa mais provável de morte para quem anda à boleia nos States é ter um acidente de automóvel.
b) O animal mais perigoso do mundo é o mosquito.
c) O animal selvagem mais perigoso da América é o veado. (Já agora, em África presumo que seja o hipopótamo)!
d) O local mais perigoso do mundo é a nossa casa.
e) A maioria dos ataques de animais em parques nacionais é causada por animais domésticos.
f) Quando for atacado, o melhor movimento de autodefesa é fugir.
g) A melhor maneira de fazer sinais para obter ajuda é, claro, usar um telefone (ou um telemóvel...)

Pela minha parte gosto muito de ter medo. Pelo menos sinto-me inteligente quando tenho medo (sempre me disseram que só os tontos não o têm...) :-)

10:31 da tarde