20 outubro 2006

32. CARROS

Eu, de carros, percebo pouco. De mecânica automóvel idem. A minha enciclopédia da especialidade cresce a par da lista de avariais das quais o nosso UMM vem sofrendo. Cervo-freio, diferencial, bomba de água, cubos das rodas, são-me expressões familiares mas há no entretanto centenas de outras ainda desconhecidas.
O oposto acontece com a generalidade dos homens (sim homens, aqui o machismo ainda prevalece) africanos. Saber de mecânica é para o africano contemporâneo tão importante como eram (e continuam a ser, claro) os saberes tradicionais acerca da natureza que os envolve. É interessante este fascínio pela máquina em países onde, tirando a extracção de minério, os processos de industrialização massivos lhes passaram (e passam) ao lado. Será que se houvesse mais fábricas e consequentemente maior especialização laboral este espírito "self-made-man desenrasca" subsistiria? Especulação ignorante minha provavelmente...


Pelo que já vimos, na África do Sul e na Namíbia, coexiste uma indústria automóvel "à ocidente" com o característico improviso "vale tudo para prolongar a vida à máquina". Nas cidades e estradas de alcatrão do Kalahari, tanto se vêm acelerar (até aos cento e muito) Volvos e Audis de alta cilindrada novinhos, como se arrastam (até aos cento e pouco) carrinhas de caixa aberta com 30 ou 40 anos carregadas de pessoas e carga.


No mercado dos safaris (o ambiente que sobretudo nos tem rodeado) predominam as pick ups 4x4 de caixa fechada japonesas mais recentes: Toyota Hilux à frente, mas também Nissans, Mithsubishis e Mazdas. Encontram-se frequentemente os oldies Land Rover e Land Cruiser. A gama média é o 4x2 Nissam Almera e a baixa são os baixinhos WW Golf Chico (modelo de 1974 ainda em produção) e o Toyota Corola (modelo do princípio dos anos 90). Há ainda o universo paralelo dos safaris em tours organizados e que rolam em veículos estrambólicos. São camiões de rodados todo-o-terreno bastante altos, variáveis na dimensão (entre 12 e 30 pessoas de capacidade talvez), adaptados de modo a incorporarem os bancos com janelas em cima e os arrumos para toda a logística em baixo (cozinha industrial a gás incorporada).


Ao contrário do que prevíamos, alugámos dois carros até ao presente momento.
Na Cidade do Cabo, foi um Opel Corsa por um dia para explorar a península. A minha primeira experiência a conduzir "à esquerda" não foi desastrosa mas raspei o tampão da roda frente/esquerda num passeio e os gajos da agência deram logo pela coisa no acto de entrega. No contracto optámos pelo full insurance, mas este não é assim tão full, e não cobre danos nas rodas, faróis e vidros. O aluguer foi barato, cerca de 20 Euros/dia, mas o excesso pelo tampão de plástico foi mais 15 Euros.
Na Namíbia, foi nosso companheiro durante uma semana um Toyota Corola branco. O contracto de aluguer foi semelhante ao da África do Sul mas agravado no preço (35 Euros/dia) e pela inclusão do chassis na lista de partes não cobertas. Esta medida é consequência do mau estado das estradas (a maioria não alcatroadas). Eu sabia deste risco mas mesmo assim não evitei a estupidez de manobrar o carro, sozinho à noite, num parque de campismo polvilhado de calhaus enormes! O rugido da pedra a raspar o chassis assustou-me mais do que qualquer fera. Essa, foi a noite da depressão. Na manhã seguinte estava recomposto. Como se costuma dizer, é só chapa batida! Surpresa foi a agência de Windhoek ter desvalorizado o estrago ao carimbar um notável no visable damages. Esperemos agora pela factura do cartão de crédito...


Eu, de carros, percebo pouco, o que não impede que não tenha gostos. Tenho, mas essas preferências não se dirigem às viaturas per si mas ao contexto de uma determinada experiência: o carro da família ou de um amigo, um livro, um filme. É por esta razão que as minhas máquinas de eleição são invariavelmente modelos do passado: Citroen 2CV, Renault 4L, Mini 1000, UMM, UAZ, Land Rover 110, Toyota Land Cruiser.
Termino com um misto de homenagem e interrogação. Muito antes do actual panorama de globalização, uma marca automóvel japonesa semeou viaturas pelos quatro cantos do mundo: Toyota! Ásia, Europa, África, América, Austrália. Eles estão lá e em força! Confesso que a Toyota me conquistou também, mas pergunto-me como aconteceu esta proliferação? Tenho de investigar o assunto...







contrastes; Land-Rover, Land-Cruiser, Patrol; safaris estrambólicos; alugueres: corsa e corola

1 comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

Sem esquecer que pelas Áfricas ainda há os populares Isuzu de caixa aberta a transportar cabras, pessoas e legumes (não necessariamente por esta ordem)!

2:30 da manhã