21 outubro 2006

33. QUEM NÃO ALUGA CARRO


O bus das 18 chegou hoje antes das seis da manhã à bomba da Shell de Bagani. Tínhamos já alguém do Ngepi Camp à espera. Sabíamos que ficaríamos acampados porque todos os outros tipos de alojamento estavam ocupados para este fim-de-semana (o "outros tipos de alojamento" inclui cabanas de canas, tendas em deck equipadas com colchões e ainda casas em árvores - acrescente-se que as casas de banho de uso comum são vedações de canas em forma de círculo, sem tecto, com um caminho que, entre árvores e arbustos, desemboca numa sanita normal. Quando, há pouco, fui fazer xixi veio-me à cabeça aquela do Palma: meu deus! estou todo picado pelas abelhas).
No entanto, na minha mochila guardava-se a esperança de podermos vir a receber uns bons conselhos sobre como chegar a partir daqui ao Botsuana. Assim poderíamos atingir o delta do rio Okavango na sua parte mais a montante, menos propícia ao turismo dispendioso do Botsuana, e provavelmente mais impressionante nesta zona dado o avançado da estação seca.
Mas, em vez disso...
Tivemos hoje frente a um nascer do sol bem único.
No caminho de Bagani até ao Ngepi Camp (Ngepi quer dizer como estás) passámos por aldeias de uma Namíbia profunda: aglomerados de meia dúzia de casas-cabanas construídas com canas e terra, gentes que delas já saía caminhando, um crânio com o nome do lugar escrito na fronte e miniaturas de mokoros (canoas feitas de um grande tronco de árvore ou, hoje, em fibra de vidro) expostas para venda. Quando chegámos e nos sentámos na margem do rio Okavango, o sol vermelho via-se às riscas por detrás das nuvens. O rio é largo e gordo de água, as margens verdes como nada na Namíbia. A corrente segue forte. Uma agitação na água provoca a mudança de direcção da corrente. Nada se vê. Geram-se ondas pequenas mas que chegam a rebentar contra a direcção da corrente, e outras concêntricas se vêem também subindo o rio. Nada se vê? Vêem-se na cor clara da água dois olhos e uma testa escuros. Submergem, arrastam uma grande massa de água. Voltam à tona mais próximo de nós: confirma-se o hipopótamo!
Mas em vez disso...
O Ngepi Camp revela-se um lugar pouco apropriado para nós. O alojamento está sobrelotado não pela reduzida dimensão do lugar mas porque chegou uma tour de reformados holandeses e respectivo staff que esgotou as alternativas. Este Camp está direccionado para receber grupos em viagem organizada ou gente com carro. Servem snacks até às 17 e depois jantares a dois contos. E paga-se tudo no momento de saída (deve ser só por acaso que não temos pulseirinha). Disponibilizam algumas actividades mas a maioria delas é para grupos de 4 ou mais pessoas e cheira-me que não encontraremos parceiros entre estes reformados holandeses. O próximo bus que pode trazer gente será na terça, daqui a três dias, altura em que estaremos fartos disto.

Temos de nos render ao que de facto de que as nossas capacidades são limitadas e temos de conseguir tirar o melhor proveito delas.
Não temos o que é preciso para ir de mochila às costas ali para a estrada que fica a 4 km esperar que passe alguém. Temos o que é preciso para aqui ficarmos a ouvir tanto pássaro e insecto, de tenda montada debaixo de uma trovoada que ao meio dia já deu chuva e que agora se traduz em rajadas de vento. Temos a emprestada ;-) Jornada Hewlett Packard para pôr em dia o prometido aos leitores.
Na terça lá vamos apanhar outra vez o bus das 18, que passa aqui às 5:40 da manhã, e começar a saltar de terra em terra, de bus em bus, para chegarmos a Moçambique - que não fica propriamente aqui ao lado. Apostamos assim numa estadia mais prolongada nas costas do Índico. Quem sabe se não acabaremos a tostar ao sol num resort de luxo no arquipélago de Bazaruto.





nascer do sol, meninos aldeões e tenda no Okavango; instalações sanitárias: duche, água quente a lenha, sanita; a banhos na gaiola à prova de crocs and hipos

1 comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

As vossas fotos parecem-me mesmo excepcionais. Façam uma exposição!

8:09 da tarde