16 novembro 2006

63. PELAS ESQUADRAS

Como anteriormente descrito no post FOTOS SOBRE COMO CHEGÁMOS NÓS A PEMBA, o meu telemóvel foi-me habilmente surripiado do bolso durante os apertões na entrada para o autocarro de Namialo com destino a Pemba.
Foi com o intuito de participar do ocorrido que me dirigi à esquadra da polícia na praia de Wimbi, em Pemba. Obviamente não tinha qualquer esperança de recuperar o telemóvel, o objectivo era obter uma cópia do relatório policial para, uma vez em Lisboa, accionar o seguro de viagem que, sendo topo de gama, cobre furtos de bagagem. Seria também uma boa oportunidade de observar em acção o sistema policial Moçambicano. Mal sabíamos o que nos esperava.
01.
Entrei na esquadra, uma moradia adaptada, e dirigi-me à única pessoa fardada presente dizendo das minhas intenções. Mandou-me aguardar na saleta. Sentei-me. Um placar de esferovite pregado na parede exibia um mosaico de fotos tipo-passe de indivíduos detidos (a lista negra). Na sala anexa, um escriturário muçulmano batia à máquina um relatório. Esperei 15 minutos, tempo em que a máquina bateu 15 letras. Chamaram-me a uma outra sala. O agente fardado, de metralhadora em cima da secretaria, deu-me a palavra. Expliquei o sucedido e as minhas pretensões três vezes, até que o agente se rendeu à evidência de que eu não poderia ter feito a participação na esquadra de Namialo, uma vez que, aquando da ocorrência, já me encontrava dentro do autocarro a caminho de Pemba.”Sim está bem, aguarde lá fora um pouco por favor”. Mais 15 minutos de espera e voltou a chamar-me. “A pessoa que podia fazer isso hoje já não está cá, só amanhã...”. “Ok obrigado, deixe lá que eu vou hoje para Maputo e trato lá disso”. Retirei-me, entediado com a inércia.
02.
Dois dias depois, sábado, já com a companhia da Jota, dirigimo-nos à esquadra da baixa de Maputo, um verdadeiro quartel de polícia. Repetiu-se processo e desta feita com consequência, uma vez que o agente de serviço manuscreveu o acontecimento no livro de ocorrências. Quando esperávamos que nos fornecesse uma cópia, disse: “Agora, na terça-feira têm de se dirigir a este lugar para levantar o relatório”. A custo, conseguimos que nos apontasse no mapa o local, e lá nos resignámos à perspectiva de mais uma distracção pelos processos burocráticos locais.
03.
Na terça-feira, à hora prevista, estávamos na Secção de Investigação Criminal do Ministério do Interior. Dirigimo-nos à secretaria. Aguardámos 15 minutos na fila de espera. Entregámos o talão com o número do processo à funcionária. Sem nos dirigir palavra, avistámos o almejado relatório nas suas mãos durante 15 minutos, enquanto resolvia outro assunto paralelo. Quando nos abordou, em vez do relatório, devolveu-nos o mesmo talão por nós entregue, agora adicionado da referência "8º andar". Tentei perguntar-lhe “Isto para que serve?” mas não obtive resposta. 10 minutos volvidos e insisto de novo, ao que ela responde “Sim sim acompanhe este senhor que ele trata disso”. Tentei interpelar o tal senhor (trajado à civil) acerca do que se passava, mas ele só dizia “Sim, sim venham comigo”. E lá subimos oito andares a pé, porque o elevador já deve ter morrido faz muitos anos, até um gabinete onde, ao som de marteladas que destruíam a canalização na varanda adjacente, o tal senhor disse: “Então ao que vêm?” Pacientemente voltámos a explicar a situação ao que ele retorquiu "Aqui a burocracia é demorada. Quando vão embora? Sexta! Hum... sim, acho que vai dar para resolver. Voltem na quinta-feira”. Com esta não nos ficámos, e insistimos em como bastava uma cópia do documento que ele tinha na mão (o tal que já vinha da funcionária da secretaria), que não queríamos pesar o sistema criminal com aquele assunto menor, que era só para o seguro, que desistíamos da queixa se nos copiasse o documento, que só precisávamos de um carimbo no formulário comprovando a nossa participação do furto. Perante a nossa insistência, o agente Sebastião, (entretanto assim auto-apresentado), hesitou e mostrou-se compreensivo. “Está bem, vamos então descer que eu faço a fotocópia”. Vínhamos no 6º andar quando o agente Sebastião é tomado por algo que o faz retroceder no prometido.”Hum...hoje faço o carimbo no formulário mas o relatório só na quinta-feira, tem de ser “o oficial” com selo branco e tudo”. Assentimos.
04.
Quinta-feira, último dia em Maputo, voltámos ao gabinete no 8º andar do agente Sebastião. Este, ao avistar-nos pareceu surpreso. “Bom dia, como estão? Tudo em ordem? Hum...houve um problema na sala das máquinas e não foi possível fazer o documento oficial. Vamos lá baixo e entrego-vos a fotocópia do relatório.” Descemos. O agente Sebastião desapareceu pela secretaria de onde voltou 15 minutos depois, e com um ar solene, quase confidencial, entregou-nos o seguinte documento:

4 comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

Arquitecto Turista?! Onde é que tiraste esse curso? Eu também quero!

2:06 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

O curso de "Arquiteto Turista" sai nos pacotes de Farinha Predilecta. Basta juntar água da praia de Catembe.

12:26 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Espera até a seguradora em Portugal te dizer que o teu nome no relatório está mal escrito, ou algo desse género, para se recusar a desembolsar dinheiro!

Pedro Lérias

7:20 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O fim do texto é...
... a cereja no topo do bolo!

Nuno

11:44 da tarde