09 novembro 2006

53. DE PEMBA, ANTIGA PORTO AMÉLIA

Em Outubro de 1915, em plena Primeira Guerra Mundial, meu bisavô chegou à bela baía de Porto Amélia (a terceira maior do mundo, dizem os bilhetes do autocarro) integrado, como chefe dos serviços administrativos, numa expedição do exército português na campanha contra os alemães. A demarcação da fronteira Norte com a actual Tanzânia, então colónia alemã, tornara-se uma questão litigiosa desde o tratado de Berlim, 30 anos antes, e ficou apenas resolvida, pela força, em 1916, a favor de Portugal.
Meu bisavô aqui esteve treze meses. Passados pouco mais de cinquenta anos, igualmente por aqui "navegou" meu pai cerca de um ano e meio, às contas com outras guerras e enquadrado num meio militar diferente - a Armada. Nas suas memórias ele descreve Porto Amélia como "uma cidadezinha colonial engraçada, bem rodeada de aldeias de pescadores". Quarenta anos volvidos, aqui estamos nós numa breve estada de três dias, sem nada a combater, a não ser a ânsia do regresso que se aproxima.
Pemba é hoje bem distinta dos tempos de meu bisavô e de meu pai. Não lhe noto nem a graça, nem as aldeias de pescadores. Noto sim, uma urbe bem extensa, transportes públicos novos (ouvimos a notícia da sua inauguração na rádio há 8 dias), um centro de negócios, uma degradada zona residencial ex-colonial onde se localizam as principais instituições, uma actividade pesqueira (aqui sim, ainda tradicional), e um franco desenvolvimento recente no sector do turismo.
Pela marginal da Praia de Wimbi, a 5 Km da cidade, vão proliferando beach resorts de diversas categorias (entre 3 e 5 estrelas, vá lá). Percorremos todas as opções disponíveis e acabámos na mais económica, o Complexo Náutilus, num Challet junto à areia a 40 dólares com pequeno-almoço.
Ontem decidimos os próximos passos. Desistimos da ida às Ilhas Quirimbas (por onde meu pai viveu alguma peripécias). Ali, os tempos também são outros e hoje, das muitas ilhas e ilhéus selvagens que compõem o arquipélago, já se contam cinco ilhas privadas com resorts de luxo. Das habitadas, a Ilha de Ibo é a única "pública", e alberga população numa antiga vila colonial. Atingir Ibo seria possível mas extremamente cansativo (5 a 10 horas de "chapa" mais um trasfegue de barco se a maré permitisse). Na volta, o mesmo esticanço...Não obrigado! De ilhas já temos a de Moçambique e Likoma, e por aqui ficamos.
As tarifas de fim-de-semana das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) revelaram-se simpáticas e como "espírito beach resorter" não é a nossa especialidade, antecipámos a ida até Maputo para sexta-feira. De lá, teremos ainda uma semana para gastar até regressarmos a Joanesburgo.




casa da justiça, centro de negócios, old town; pela marginal até à praia de Wimbi, complexo Náutilus, aldeias de pescadores

1 comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

Gostei muito da perspectiva diacrónica... feita de memórias de família.

7:18 da tarde