04 novembro 2006

47. CHEGADA À ILHA DE MOÇAMBIQUE

De Nampula até à Ilha de Moçambique tomámos um tradicional autocarro africano, daqueles descritos nas antevisões sábias de um nosso comentador de serviço logo aquando do início destes relatos. Na verdade, desde os buses da Greyhound ou da Intercape que rodam sobre as estradas da África do Sul e da Namíbia, os serviços rodoviários têm vindo a ganhar "expressão africana".
Entrámos no autocarro, devidamente estacionado ao sol, e aí esperámos que enchesse bem para além dos 25 bancos que ocupam a totalidade do seu interior. Este autocarro consegue funcionar sem coxia graças ao facto do segundo banco de cada fila ser rebatível. Os passageiros vão entrando, arrumando-se primeiramente nos bancos traseiros. E ao mesmo tempo, no tejadilho empilha-se de tudo e na bagageira esborracham-se outros haveres. Quando hora e meia depois partimos, em vez de 25 íamos cerca de 40. Em cada fila de 4 apertavam-se 5 passageiros, à frente sentavam-se outros extra e, já com o autocarro em movimento ainda entraram meia dúzia de homens que ficaram em pé, pendurados como um cacho, no espaço deixado livre pela porta aberta. E foram 4 horas assim, de rabo num banco mais duro que uma tábua, sem conseguir mexer as pernas, apanhando bofetadas de vento com pó que cheguei a trincar entre os dentes.
A travessia para a Ilha de Moçambique é feita através de uma comprida ponte com uma só faixa de rodagem e bolsas laterais de tantos em tantos metros que possibilitam o cruzamento de veículos. O autocarro em que seguíamos era demasiado largo para atravessar a ponte. Fizemos então transbordo para uma carrinha pick up de caixa aberta acabadinha de vomitar (de manga) por uma criança. Passageiros, em pé de igualdade com bagagens, empilharam-se conforme o espaço que havia na caixa aberta. Já em andamento, na mecha, as pálpebras fugiam-me dos olhos, o cabelo chicoteava-me a cara e até me custava a respirar.
Entre alguidares, colchão de corpo e meio, sacos de arroz e cabeças alheias, quase não reparávamos nos finos coqueiros que espreitam sobre a restante vegetação, nos tanques de extracção de sal, nas margens da ilha (afinal) rochosas ou com paredão de pedra, ou no azul-verde-claro do Índico com os seus curtos carneirinhos.



ao molho no mini bus; ao molho na pick-up

1 comentário(s):

Blogger GREGO disse...

As fotos são verdadeiras janelas para mostrar a quem ainda não conhece, um pouco do que alguém com um olhar tão especial pode ver.

12:21 da manhã