30 outubro 2006

39. NA ILHA DE LIKOMA

A nossa estadia na ilha de Likoma durou dois dias e três noites, que foi o tempo do ferry-boat Ilala ir ao Porto de Chilumba, no Norte do lago, e regressar. Foi uma paragem para o relax, boa para desenjoar da ondulação e sobretudo, para desentorpecer o corpo das tremuras apertadas em tantos buses.
O Mango Drift que nos acolheu calorosamente (e com equivalente frieza nos despachou no momento de pagar a conta - situação que alias se tem vindo repetir aqui em África) fica localizado sobre uma bonita praia na costa Oeste. Está a uma hora a pé do porto, dos estabelecimentos comerciais, serviços, mercado, restaurante, e da improvável e imponente catedral anglicana erguida aquando da colonização da ilha pelos missionários). Aqui assistimos à missa de domingo, repleta de gente bem vestida e calçada. A esquerda da assistência reservava-se às mulheres, a direita aos homens. Um coro animado com percussão entoava o gospel local intercalado com orações de espíritos leves e alegres por ali estarem.
À noite fomos "convidados" pelos empregados do Mango Drift para irmos até à escola assistir a uma festa. O coro da Ilha de Chizumulu (vizinha) actuava num celebração de três dias. Não seria um programa muito aliciante mas fariamo-lo com prazer até que… os "20 minutos" até à escola foram 40, à luz da Lua (feitos com o cuidado de apanhar referências para garantir o regresso quando bem o entendêssemos); a meio caminho descobrimos que as entradas eram pagas e ia parecer mal que os convidadores pagassem as suas; quando chegámos à escola, a luz tinha ido ao ar e não havia festa alguma! Esperámos outros "20 minutos" (iguais aos primeiro, ou seja 40) pela luz. E lá assistimos, ao ensaio, depois ao enxotar das pessoas não pagantes da sala, ao tapar dos vidros e ao cobrar das entradas. Quando o coro cantou o seu gospel ritmado em pleno, até já conhecíamos a música e a coreografia e já assávamos naquela sala. Dado o avançar da hora avisámos que só íamos ficar "20 minutos" e ficámos 10. Depois foi romântico encontrar o caminho de volta à praia.
As caminhadas/passeatas que fizemos nestes dois dias tiveram os seus encantos: o sol, as praias, os baobás e as gentes. Percorremos quase toda a ilha, e embora o fizéssemos logo cedo, foi inevitável que no regresso torrássemos. Íamos claro, protegidos com creme chapéus e munidos de água. Fazíamos paragens técnicas à sombra de mangueiras (ainda verdes os frutos) para arrefecer mas a dificuldade deste esforço físico soube bem! Destoou do rabo sentado em carro ou auto carro.
De ora em vez passávamos por pequenas zonas de cubatas. Os miúdos faziam festa por nos veres, uns mais parvos, outro menos. Corriam até nós e andavam connosco uns metros. Desde uns que brigaram para ver qual deles nos dava a mão, outros que pediam dinheiro, uns que mandavam risinhos estúpidos fixando a nossa cor ou os pelos das pernas do Quico, dois houve que fugiram as esconder-se mas lá sorriram quando lhes acenámos. Um atrevido agarrou-me o cabelo, creio que para ver como era. Fiz-lhe o mesmo (técnica recorrente nestas interacções: devolver perguntas, gestos...) e ai que me assustei com a textura de esfregão de arame daquele cucuruto! Imagino que para ele tenha sido igualmente estranho estes pelos compridos e moles que tenho.
Da paisagem da ilha ficam as redondas e fartas copas das mangueiras e os marcos que são os baobás. Chamam-lhes as árvores de pés para o ar, porque a sua copa parece ser raízes. Há umas histórias, lendas, sobre a origem destas árvores mas li-as por alto e não as consigo aqui reproduzir (algum animal irritado que plantou a sua árvore de pernas para o ar em sinal de protesto). Mas o impressionante nestas árvores é o seu tamanho, força e rectidão com que arrancam do chão para se rendilharem em ramos curtos e grossos. Vimos uma destas árvores derrubada, com tronco partido. Espantou-nos como tal ser pode ser feito de uma madeira tão branda.
Encantos exibidos, a recompensa destas caminhadas chegava também com o atingir do Mango Drift: uma coca-cola fresca era o passo intermédio para um belo mergulho na doce água do Malawi.



de Likoma: a Catedral Anglicana, o clube de video e o consultório para todos os males do Sr.Dr. Chambe

1 comentário(s):

Anonymous Anónimo disse...

Pois e', fazem falta as fotografias - virao mais tarde. Obrigada pelos piropos, ja' tinhamos saudades de te ouvir por aqui.
Quanto aos Baobabs aproveito a deixa para aqui escrever algo que so depois do post publicado me lembrei. Os baobabs sao, ao contrario de outras arvores que se rabiscam bem com bic's, arvores que so se desenhariam com canetas de feltro de ponta grossa.

5:08 da tarde