76. FECHO DE CONTAS?
Para as recorrentes perguntas sobre Como foi que correu? Correu tudo bem? Gostaram? Do que foi que gostaram mais? amanhei uma resposta que arrumei na manga: O melhor foi chegar…! Desde olhares indulgentes, olhos esbugalhados, ou piscares de olhos, as reacções seguiram-se de acordo, provavelmente, com a preocupação inerente à pergunta feita. Mas era esta a minha melhor e a mais sincera resposta com o tempo que havia disponível para o diálogo. Noutras conversas, acompanhadas a chá e biscoitos, as explicações demoravam-se mais, mais do que até este post aguentará.
Não foi uma viagem nada fácil, nem prazenteira, nem meditativa. Foi cansados, ensonados, receosos, sujos, vigilantes e uma ou outra vez desacreditados que fomos desde a costa do Atlântico até à costa do Índico. Numa das conversas a chá e biscoitos alguém nos interpelou: Mas não era disso que iam à espera? Pois é, devíamos ter ido um bocadinho mais à espera “disso”? E já agora, “disso”? “Disso” o quê? A África por onde andámos não é nada do que se espera dela, mesmo que dela se espere tudo! Certo é que se alguém ler estes relatos e se puser a fazer o mesmo trajecto não vai encontrar senão surpresas e trazer do lugar outras experiências e outras histórias. Mais do que ouvir contar, do que ver imagens, do que pesquisar, há que ir até lá para conseguir perceber do que se fala quando se fala “disso” de África. A cada visitante África desvenda-se com uma forma própria.
Como exemplo "disso" repito a resposta que o Paulo de Mumemo nos deu quando, na sequência do seu relato sobre uma recente estadia na cidade do Porto, para assistir a uma formação, lhe pedimos que falasse sobre o que tinha achado de Portugal: que não sabia dizer, que era tudo tão diferente, mas não havia de se esquecer da passagem por Lisboa, uma cidade tão limpa que mesmo depois de um dia inteiro a caminhar pela cidade não tinha sido necessário engraxar os sapatos. Previsível? tão imprevisível como lógico.
Guardo a experiência desta Força da Terra. É ela quem mais ordena. É ela quem faz os seus povos serem como são, e preocuparem-se com o pó nos sapatos. Nós, europeus brancos do séc. XXI, não conseguiremos nunca antecipar-nos ao que de facto nos espera durante uma visita ao continente Africano. Não somos de lá, vivemos há anos sempre calçados e caminhamos sobre passeios de pedra e estradas de alcatrão. Podemos ir na expectativa “disso” mas nunca vamos acertar em cheio na previsão. Porque é que havemos de querer ser todos iguais? Porque razão achamos que esses povos devem ter o que nós temos ou ambicionar o que ambicionamos? Ou serão estes frágeis pretextos para podermos jogar as nossas cartas brancas?
Desta vez espremi do blog um Q-terapêutico que me ajudou a sair de algumas das experiências mais incómodas, permitindo-me ganhar uma perspectiva descontraída sobre elas e rir-me onde antes me tinha dado vontade de chorar.
Mas não foi sempre com prazer que me sentei à frente de papel ou teclado (esta coisa da disciplina não combina com a minha forma de escrever por inspiração). A produção deste post encetei-a contra a minha vontade. Por um lado é certo que chegámos há mês e meio atrás e estou já cansada de ocupar os meus tempos (que seriam livres) com a conclusão de posts e posts, uns começados ainda no sul de África, outros por lá magicados, outros achados cá. Mas por outro lado sinto-me a precipitar um “Fim” onde não quero chegar porque ainda não consegui perceber tudo o que vi ou senti, nem consigo perceber a diferença do que vejo. Mas há que distinguir: Blog e Viagem. Este é o fecho da minha participação no Fora do Mapa 2006. O fim dos relatos escritos. O fim dos pensamentos condicionados para posteriormente serem convertidos em palavras que se leiam.
On croit qu’on va faire un voyage, mais bientôt c’est le voyage qui vous fait, ou vous défait Nicolas Bouvier, L’usage du Monde (in Livre des Déserts)
Parece-me bem que esta viagem me desfez e aos poucos me tem vindo a fazer.
Fecho as contas ao blog, mas ainda não é desta que vou fechar contas com a Viagem.
Não foi uma viagem nada fácil, nem prazenteira, nem meditativa. Foi cansados, ensonados, receosos, sujos, vigilantes e uma ou outra vez desacreditados que fomos desde a costa do Atlântico até à costa do Índico. Numa das conversas a chá e biscoitos alguém nos interpelou: Mas não era disso que iam à espera? Pois é, devíamos ter ido um bocadinho mais à espera “disso”? E já agora, “disso”? “Disso” o quê? A África por onde andámos não é nada do que se espera dela, mesmo que dela se espere tudo! Certo é que se alguém ler estes relatos e se puser a fazer o mesmo trajecto não vai encontrar senão surpresas e trazer do lugar outras experiências e outras histórias. Mais do que ouvir contar, do que ver imagens, do que pesquisar, há que ir até lá para conseguir perceber do que se fala quando se fala “disso” de África. A cada visitante África desvenda-se com uma forma própria.
Como exemplo "disso" repito a resposta que o Paulo de Mumemo nos deu quando, na sequência do seu relato sobre uma recente estadia na cidade do Porto, para assistir a uma formação, lhe pedimos que falasse sobre o que tinha achado de Portugal: que não sabia dizer, que era tudo tão diferente, mas não havia de se esquecer da passagem por Lisboa, uma cidade tão limpa que mesmo depois de um dia inteiro a caminhar pela cidade não tinha sido necessário engraxar os sapatos. Previsível? tão imprevisível como lógico.
Guardo a experiência desta Força da Terra. É ela quem mais ordena. É ela quem faz os seus povos serem como são, e preocuparem-se com o pó nos sapatos. Nós, europeus brancos do séc. XXI, não conseguiremos nunca antecipar-nos ao que de facto nos espera durante uma visita ao continente Africano. Não somos de lá, vivemos há anos sempre calçados e caminhamos sobre passeios de pedra e estradas de alcatrão. Podemos ir na expectativa “disso” mas nunca vamos acertar em cheio na previsão. Porque é que havemos de querer ser todos iguais? Porque razão achamos que esses povos devem ter o que nós temos ou ambicionar o que ambicionamos? Ou serão estes frágeis pretextos para podermos jogar as nossas cartas brancas?
Desta vez espremi do blog um Q-terapêutico que me ajudou a sair de algumas das experiências mais incómodas, permitindo-me ganhar uma perspectiva descontraída sobre elas e rir-me onde antes me tinha dado vontade de chorar.
Mas não foi sempre com prazer que me sentei à frente de papel ou teclado (esta coisa da disciplina não combina com a minha forma de escrever por inspiração). A produção deste post encetei-a contra a minha vontade. Por um lado é certo que chegámos há mês e meio atrás e estou já cansada de ocupar os meus tempos (que seriam livres) com a conclusão de posts e posts, uns começados ainda no sul de África, outros por lá magicados, outros achados cá. Mas por outro lado sinto-me a precipitar um “Fim” onde não quero chegar porque ainda não consegui perceber tudo o que vi ou senti, nem consigo perceber a diferença do que vejo. Mas há que distinguir: Blog e Viagem. Este é o fecho da minha participação no Fora do Mapa 2006. O fim dos relatos escritos. O fim dos pensamentos condicionados para posteriormente serem convertidos em palavras que se leiam.
On croit qu’on va faire un voyage, mais bientôt c’est le voyage qui vous fait, ou vous défait Nicolas Bouvier, L’usage du Monde (in Livre des Déserts)
Parece-me bem que esta viagem me desfez e aos poucos me tem vindo a fazer.
Fecho as contas ao blog, mas ainda não é desta que vou fechar contas com a Viagem.
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